quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Uma de doze


Sou jornalista. A minha ferramenta é a língua mátria, tenho orgulho nela, esmero-me para usá-la com mestria. Não peço poesia, só um português escorreito. Se rezasse creio que seria por manter essa capacidade que rezaria. E saúde talvez, que dá sempre jeito. E amor, claro, mas é esse é outro campeonato.

Vê-la mal utilizada - a nossa língua - dói-me na alma. E não falo sequer da escrita com K ou das abreviaturas de miudagem fofinha (blargh!) que atira 'miga' e 'bigado' a torto e a direito - como se, em vez de pouparem nos trocos que trazem no bolso, andassem a poupar em letras...

Falo de um há com agá onde devia estar sem agá e sem agá quando devia tê-lo. Um 'disse a ele' em vez de 'disse-lhe', que isto de conjugar o reflexivo parece que é mais difícil do que atingir o topo do Anapurna. 'Você' e 'conhece' e outras palavrinhas assim, todas cedilhadas como se fosse fino andar de perninha pendurada em cê que se preze. Um 'gostas-te' no lugar de 'gostaste', que o hífen também deve estar em saldos.

Cruzar um texto e encontrar um 'intristesse' e ficar eu entristecida. Ler os comentários a um blogue e encontrar a palavra 'rigozija', já de si estropiada e, ainda por cima, fora de contexto, claramente quem a usa não sabe o que significa.

Podia continuar a somar exemplos, tantos deles saídos das mãos de outros jornalistas que, supostamente, também levam esta profissão a sério. Mas são farpas que se cravam no meu brio corporativo e não quero entrar em 2010 ainda a sangrar.

Será tolice minha usar uma das doze passas da meia-noite para pedir que cada português se esforce no novo ano por não estropiar diariamente a língua materna? Talvez não. Afinal, pedir não custa, certo?

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Boas festas...



Ando há semanas a fazer listas. Das pessoas a quem gostava de mandar um cartão postal, à antiga. Das pessoas a quem devo mandar um mail personalizado. Das pessoas a quem a coisa se resolve com um sms e uma private joke. Das pessoas a quem faço questão de fazer um telefonema, nem que seja de apenas minuto e meio, ouvir-lhes a voz, pressentir-lhes a alma.

Estamos na véspera de Natal e continuo a não ter palavras ou forças para passar da lista à prática. Aqui e ali sou encurralada e arranjo umas quantas, faço um sorriso, tento fugir vagamente ao cliché - ou passar por ele o mais rapidamente possível. Tenho muito vento a ecoar-me no peito, nem assim enche um buraco que não fecha.

Desejo o melhor do mundo para quem gosto. A sério. Hoje e o ano inteiro. Até desejo o melhor do mundo para quem não gosto - talvez porque, no fundo, não tenha estrutura para querer o mal de ninguém.

Mas, para mim, neste preciso instante, só quero mesmo Janeiro, dia 2. Se não for pedir muito. Obrigadinha.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Lua na lama


Dizes chuva, digo arco-íris.
Dizes vento, digo moinhos, ou três mastros,
velas bojudas, a cortar mar
em direcção a algo novo e excitante.

Dizes não, digo sim, porque não?
Digo arrisca, digo petisca, digo há-de correr bem,
digo tem tudo para dar certo,
digo deixa de olhar o reflexo da lua na lama.

E um dia calo-me.
Desisto de tentar contagiar-te.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Tremor



"A terra tremeu hoje em Portugal Continental, exactamente às 01:37:47h. O sismo teve uma magnitude de 5,7 graus na escala de Richter (num total de 10) e considera-se de intensidade média. O epicentro ocorreu a 10 km de profundidade, a Oeste de Gibraltar, cerca de 185 km a Oeste de Faro e 264km a Sudoeste de Lisboa. Houve ainda quatro réplicas: a primeira."

Lembro-me de ouvir a minha mãe falar do terramoto de 1969, eu teria três anitos, mal feitos. Ela conta como correu comigo para a rua, enrolada num cobertor. Conta do pânico. Conta da sensação de impotência, sem ter outra informação do que os rostos assustados da vizinhança, na rua de pijama e medo.

Lembro-me de há uns onze anos, vivia no pequeno apartamento da Parede, eramos quatro a jogar Uno madrugada dentro. Os copos dentro do móvel sobre a tevê largam numa sinfonia estremecida e os meus olhos encontram os da minha parceira de jogo. Impávidas e serenas. Quando tudo termina, a terceira de nós pergunta "que foi isto, um tremor de terra?" e larga num pânico extemporâneo. O quarto elemento do grupo telefona à mãe: "se houver alguma coisa encontramo-nos no Marquês de Pombal, certo?", como se fosse o sítio ideal para um reencontro após a catástrofe.

Esta noite, do alto do meu quinto andar sobre a avenida, exactamente às 01:37:47h, no sossego solitário deste prédio centenário, a ver o mundo da minha janela livre de pombos, os 5,7 graus na escala de Richter mostraram-me como seria fácil tudo ceder e ir parar aos pés do Marquês. O grande open space vazio abanou dentro do meu estômago, a consciência do que se estava a passar cruzou-me o cérebro, não me lembro de sentir medo ou similar.

E, quando tudo parou - foram mesmo só uns segundos? - a única coisa que me ocorreu então foi como é extraordinário o poder da Natureza. Sorri para dentro. E ficou explicado porque não creio em deus.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Cadeia


Aqui e ali tropeço nas correntes do meu pensamento.

Estou presa a uma ideia estapafúrdia e continuo a sorrir.

Querido Pai Natal...


Abro blogues de miúdas e, um após outro, surgem recheados de cartinhas ao Pai Natal, umas mais pedinchonas do que outras - a esperança de que alguém generoso as leia fica algures entre o absurdo e o comovente.

Aqui a mala de marca, ali o novo telemóvel, acolá o perfume das estrelas... E, para evitar enganos, não faltam as fotos que ilustram o objecto desejado, não vá o Pai Natal andar a ficar pitosga e trocar a Vuitton pela Chanel, o Nokia pelo Alcatel, o mega-fantásticó-coiso pelo toma-lá-e-não-digas-que-vais-daqui.

Elas vão odiar-me por instantes - mas a verdade é que, por instantes também, sinto pena. Pena de ver-lhes os desejos reduzidos aos pseudo-luxos que o marketing lhes inoculou nas veias. E depois sobrevém a curiosidade. E tento fazer o exercício patético de criar a minha própria cartinha ao Pai Natal.

"Querido Pai Natal, este ano fui uma boa menina e, se não te importares muito, agradecia que metesses no meu sapatinho..." Bem, que metesses no meu sapatinho...

E só me ocorrem coisas que não se compram nas lojas. Só me ocorrem coisas que me fazem arrepiar o sangue nas veias. Só me ocorrem pedidos patéticos, como fazer com que o tempo volte para trás e pare ali por mais uma hora, um dia, uma migalha de tempo para dizer qualquer coisa que tivesse significado; fazer com que aqui e ali se pudesse ainda virar à direita em vez de à esquerda e talvez tivesse sido diferente; fazer com que amanhã embandeire o arco-íris em que acredito piamente, estúpida optimista incorrigível, não havia outra característica de personalidade mais prática que me pudessem ter injectado na carga genética...

Não suporto este Natal pequenino. Desculpem lá, miúdas. São umas queridas. Mas as vossas listas de pedidos ao tipo das barbas dão-me vontade de chorar, que querem...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A bula

Leio a bula. Extracto hidroalcoólico seco dos capítulos. Extracto aquoso seco das sumidades floridas.

Sumidades floridas...Soa tão bem.

E é capaz de ser óptimo para a alma. Para a dor de garganta e rouquidão é que não está a servir de grande coisa...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A vida é um jogo


Sei que alguma coisa anda baralhada na cabeça das pessoas quando descubro que, às dez da manhã de um dia de trabalho, uma certa e determinada pessoa - que deverá ter acabado de entrar ao serviço - não tinha nada mais relevante para fazer do que enviar-me, via facebook, um convite para subscrever a causa "Movimento contra a emancipação sexual da Popota e Leopoldina".

E aposto que também foi regar a horta, recolher os ovos e pôr mais uma quantidade de King Crab Bisque ao lume...

(P.S.: E já agora, que mal pergunte, por que raio é que alguém há-de estar CONTRA a emancipação sexual das bichas?)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A-M-O-R


Anda tudo fascinado com a história do jovem padreco que largou tudo pelo amor de uma menina chamada Fátima.

Eu sorrio ao de leve. E não consigo tirar da cabeça a história daquele homem asiático que desenterrou a falecida mulher e, durante cinco anos, dormiu ao lado dos seus restos mortais na cama.

Até tenho medo de descobrir o que isso quer dizer a meu respeito e a forma como concebo o amor.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Fome


Tenho passado o dia assim. A pensar em flores. Em flores do campo, brancas, simples, que crescem mesmo no meio dos restos do mundo. Pois, malmequeres.

Ou vermelhas. Papoilas, "gritos vermelhos num campo qualquer". Ou amarelas, como as azedas que apanhava no terreno baldio sempre que vinha da escola para casa, miúda pequena.

Flores. Apetece-me flores. Acho mesmo que tenho fome de flores, que não de pão.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

E se, de repente...


me oferecerem um gelado Magnum, duas e meia da manhã, um pombo salvo há menos de meia hora - à força de guarda-chuva - das garras dos espetos no peitoril da janela, uma vaga neura no ar? É mimo. Mimo puro, desinteressado. E a parte melhor é que chegou de quem não sonha o quanto eu precisava de mimo neste momento, mesmo sem o saber.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Desespero

Se há coisa que me tira do sério é ver o Natal "começar" ainda mal o ano escolar recomeçou.


Bem, ver as promoções de cadernos escolares, lápis, mochilas e similares quando ainda estamos de papo para o ar a curtir as praias de Agosto também.

Tal como levar com biquinis e anticelulíticos ainda mal acabámos de fazer a digestão das amêndoas da Páscoa.

Na verdade, ver encher as lojas de coelhinhos e ovos de chocolate um mês antes da Páscoa também...

E gramar os coraçõezinhos do S. Valentim ainda mal curámos a ressaca da passagem de ano...

Como alguém disse há dias, "o capitalismo, antes selvagem, agora está desesperado". E não há nada mais anti-tusa - consumista inclusive - do que o desespero.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Pronto!

Sabem aqueles momentos em que deixamos de ter marido ou mulher e toda a gente com quem nos cruzamos dispara, nos primeiros cinco segundos, 'e então como é que está a fulana ou o fulano'? Pois, é o que me acontece à conta dos pombos.


Quem conhece este meu cantinho não perde ocasião de querer saber: 'e então, como estão os pombos?'... É uma história longa, um dia destes conto-a, vou prometendo. Hoje vou cumprindo. E confesso que, assim às vezes, muito de vez em quando, sinto-lhes a falta também. Divertiam-me, distraiam-me, irritavam-me... Mas foram-se. Mais ou menos de vez, que agora, se aparecerem aqui pela Maternidade Almeida Avenida, correm o risco de acabar no espeto.

Da última vez que os mencionei voltava de férias, havia dois novos ovos no ninho. Naquele nojo de ninho. Nasceram, cresceram, a história repetiu-se: um a morrer e a apodrecer num canto, o outro a crescer, a ganhar asas sobre os restos mortais do mano e a voar. A Natureza tem essa mania de ser cíclica, que querem...

E, de repente, não mais que de repente, os piolhos invadiram o pedaço, aproveitando a ocasional janela aberta. Começámos a andar todos mordidos. As mesas povoadas de novos habitantes ínfimos que se entranhavam nas nossas peles, nas nossas roupas, nas nossas vidas. A minha singela vontade de, no regresso de férias, aproveitar para limpar aquele cemitério de pombos e, percebi-o tarde demais, maternidade de piolhos, transformou-se numa operação quase militar de limpeza geral aos parapeitos do prédio.

Tudo culminou na tirinha de espetos - fascinante invenção anti-pombo-no-beiral que passei a ter aqui no canto da minha janela de quinto andar sobre a avenida. Os pombos já cá não vêm. Já não há nada vivo a olhar-me do outro lado da janela. É uma limpeza. Mas é também um bocadinho triste. Se calhar foi por isso que andei tanto tempo a adiar esta história...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Da memória à dúvida


O resto da chuva da manhã deixou os passeios brilhantes. Uma coisinha de nada, uma nesga de sol, reflectiu por entre os meus passos o que me pareceu uma moeda. Atentei o olhar. Não era.

E dei por mim a pensar: encontrei tantas moedas, até notas, notas de 20 escudos, todas dobradinhas, aí pelas ruas, na minha adolescência. Avistava-as à distância, no chão, e espantava-me com a minha sorte. De há uns dez anos para cá que não me recordo de encontrar uma que seja - excepção feita a duas ou três em casa, durante uma mudança. Estarei mais alta? Com a mente ocupada demais para ver onde piso? Ou andamos todos tão tesos que já nem nos podemos dar ao luxo de perder moeditas pelo caminho para eu as encontrar?

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Eu sou da chuva e do vento e da trovoada


Ao chegar a casa, o cheiro intenso a terra molhada a despertar-me a alma. Li na cama até começar de novo a chover. Só depois consegui reconciliar-me com o sono, embalada pela torrente de água que caia dos céus, entre relâmpagos e trovões. Estava plena.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Stand by


Queria apaixonar-me. Queria apaixonar-me de caixão à cova. Queria voltar a sentir as proverbiais borboletas no estômago. Queria a tontura da emoção sem restrições. Queria não pensar, não avaliar, não adivinhar futuros que nunca o serão, não topar à distância erros de casting. Queria sentir-me livre da prisão do bom senso, da noção das distâncias e das diferenças e das impossibilidades.

Queria enganar-me redondamente como já me enganei antes. Queria sentir aquele calor intenso a subir-me a espinha. Queria ignorar todos os sinais de perigo e todos os sentidos únicos. Queria ser tonta e crédula e impulsiva e despojada do sentido de mim para assumir o nós. Mesmo um nós que só existiria deste lado.

E queria sofrer estupidamente como antes sofri. Sofrer até sentir rasgaram-se as paredes do coração cá dentro. Ventrículos e aurículos transformados em ground zero. Sofrer até não saber quem sou nem o que faço aqui. Sofrer até ao limite. Até me lembrar de que estou viva. E que só por estar viva sou capaz de amar assim e sofrer assim.

sábado, 12 de setembro de 2009

Boletim pouco lógico


E de repente vem a nuvem. E de repente vem a chuva. E de repente esta cai dos meus olhos nublados por causa das altas pressões que ninguém controla, o mundo a revolver-se em estertor sobre si mesmo.

E de repente só apetece o abraço. De repente só apetece o colo. Apetece a mão que aperta a mão debaixo da mesa, sem palavras, que as palavras têm uma magia estranha que ninguém controla.

Quem me diz que não foi falar em sorrir que trouxe este chorar, não dizem que a existência é um cristal de equilíbrios?

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O poder de um nome, pois

A foto não é muito clara. Mas o nome da empresa que forneceu este equipamento anti-fogo também não é particularmente iluminada: Extinsandro.


Assunto idêntico, acho brilhante este anúncio nos acessos aos elevadores de um certo centro comercial. Afinal, nem toda a gente fará ideia do que sejam sprinklers. E pensando bem, quantas saberiam o que são aspersores?

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Boletim meteorológico


Acordei a adivinhar arco-íris com a banda sonora de trovoada.
Não levantei o traseiro do leito para ir ver.
Temi abrir os olhos para uma outra realidade.
E hoje não queria, que a vida sorri.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Olhando as estrelas

Tenho andado atascada. E há dias em que, de tão atascada, me sinto velha.

Depois entrevista-se a Alice Vieira e ela diz-me: desde quando é que há limite de idade para justificar o que podemos e não podemos fazer? E eu penso: a partir de quando é que somos velhos? Não é idosos, nem séniores, que isso é conversa de políticos e cartões de descontos.

E, na práctica, estou-me marimbando para a idade que tenho, só conta mesmo o que o corpito aguenta. Mas diverte-me fazer anos. Melhor, somar anos. Poder atirá-los assim crescidinhos à cara de quem é tão tonto ou cegueta que me vai dizer logo a seguir: ah, não pareces nada.

De repente, lembrei-me: vamos lá ver quantos anos faria se fosse natural de outros planetas. Pois em Mercúrio estou mesmo a cair da tripeça - levo 177 anos e meio. Em Marte, onde "passei uns tempos", continuo uma pita tonta, do alto dos meus quase quase 23. Em Júpiter e Saturno estou a dar os primeiros passos, digamos assim.


Mas em Vénus... em Vénus é que eu estou bem. Tenho 69 anos. Um número bonito. E, ainda por cima, faço anos já a 19 de Dezembro que, ainda por cima, é um sábado - o que dá imenso jeito para celebrar. Velha? Bah!

(http://www.minerva.uevora.pt/ticiencia/estrelas/idade_noutros_planetas.htm)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Carneiros


Marquês de Pombal, saída do túnel das Amoreiras. Há meses um qualquer veículo chocou contra as vedações, rebentando uma.

Há meses que carradas diárias de carneiros idiotas acham que é mais interessante atravessar no meio dos carros para aproveitar a abertura do que descer meros dez metros e fazê-lo em segurança no semáforo e passadeira.

Um dia destes levo um a eito. Depois ato-o em cima do capot e vou entregá-lo aos incompetentes da CM de Lisboa...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Adopção


Nasceu num momento de ócio, filho da falta de talento.
Viveu num canto escondido, progenitura envergonhada.
A morte foi-lhe anunciada.
Mas algum pudor fez com que ficasse apenas ali, meio de pé, meio caído, junto ao caixote do lixo, a meio de uma tarde solarenga.
Meia hora depois já lá não estava.
Espera-se que viva feliz, à luz de outros olhos que lhe encontrem a beleza que nunca teve. Felicidades.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Cruzamento


Acabei de me cruzar com uma joaninha.
Não me cumprimentou.
Não lhe levei a mal.

A ilha deserta e coisa e tal


Ciclicamente há alguém que me vem com a conversa sobre o que levaria ou deixaria de levar se me fosse refugiar numa ilha deserta ou algo assim. Acho que esta semana o ciclo estava a fechar-se mais uma vez e a perguntinha lá veio. "E só podes escolher uma coisa." Larguei uma daquelas minhas atoardas que colocam logo a pessoa do outro lado do portão e segui à minha vidinha, que tinha mais que fazer.

Alguma coisa me ficou cá dentro a roer. Sim, se querem saber sou mulher de listas. Em papel, sim. A lista do que vou precisar quando vou às compras. A lista do que vou meter na mala quando vou de viagem. A lista dos livros que tenho de determinados autores. A lista das coisas que quero fazer em casa assim que tiver dinheiro para mais um raide decorativo. E sim, a lista das coisas em que seria obrigatório agarrar se a casa pegasse fogo e tivesse que fugir em cuecas, um rol que, graças às novas tecnologias se transformou em algo como isto: um CD com fotos escolhidas das pessoas da minha vida; um CD com os documentos relevantes todos digitalizados; um CD com textos e missivas várias e, last mas definitivamente not least, um certo e determinado objecto.

Com isto arrumado na minha cabeça, roia-me o quê então? Entro no carro, dou à chave. De imediato, como sempre, a rádio dispara. No ar paira uma canção de outros tempos. E eu soube o que levaria para a dita ilha deserta ou coisa que tal: música. A forma como me faz sentir, como me liberta, como me toca pela harmonia, permitir-me-ia, só por si, abdicar de quaisquer posses, recordar rostos queridos e quadros intensos, relembrar textos meus e de outros, imaginar mil livros novos, diferentes a cada dia, e saber que aquele objecto que anda sempre comigo não precisa de andar sempre comigo para nunca me abandonar.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Vamos brindar...

Sabem como é que temos a certeza de que estamos a entrar na fase "velhos"?


Quando apanhamos o Eduardo Santana no "Verão Total", da RTP1, em Paredes de Coura, a cantar o "Vinho Verde" - e acompanhamos a letra toda sem um único engano.

Lindo serviço...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Emoção


Pollock pinta. Não é Pollock. É quem lhe veste a pele. Chama-se cinema. Mas pinta. Salpica. Atira. Movimenta tinta no ar. Regista-lhe o trajecto na tela. Pollock vive naquele instante. Vive naqueles quadros. E percebe-se por que é arte aquilo que fez.

Quando é que me canso de ver este filme? Quando é que desisto de lhe invejar o indíce de loucura que o tornou grande?

terça-feira, 28 de julho de 2009

Uma história exemplar

Quando decidi que queria comprar o "Crimes Exemplares", do Max Aub, era esta a edição que tinha em mente. Ilustrada. E quando arranquei para a Feira do Livro foi por ela que procurei.


Ratinha de biblioteca, perco sempre mais tempo nas bancas dos alfarrabistas do que propriamente naqueles quiosques que parecem plastificados, cobertos de capas multicoloridas, tudo a cheirar muito a novo. Num deles a surpresa: uma edição bem mais singela, também da Antígona, de 1995, sem as belas ilustrações da que procurava, mas bem mais em conta, claro. Era minha! Nem a folheei. Estiquei a nota de cinco ao homem, enfiei o livro no saco recheado já de outras pequenas pérolas assim apanhadas, e depositei-o em casa na estante dos "A Ler".

Foi ontem que peguei nele. Levei-o comigo para a cama. Aconcheguei-me nas almofadas ligeiramente inclinadas e abri-o. De dentro da fininha centena de páginas caiu um postal. Pensei que este anúncio antigo da Atalanta Filmes a "Dead Man", do Jim Jarmush, teria sido apenas o marcador de alguém. Virei-o.

"Página 21
Matei-o primeiro...
Boa leitura."

A assinatura parece primeiro um Q. Depois talvez seja um A, redondinho, com perninhas. Tem um ponto final anexo. É uma letra bonita, mas não parece de mulher. Imagino a pessoa que deixou o livro no alfarrabista, a dar-se ao trabalho de pegar no anúncio-postal, a pensar na frase que ali deixaria, a guardá-lo cuidadosamente entre páginas.

Procuro a página 21. Leio as duas linhas e meia a que corresponde. Volto a arrumar o postal no seu abraço, fecho o livro. Apago a luz, aconchego-me, durmo. Era o suficiente para alimentar a minha imaginação durante uns tempos.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Apetece-me


Apetece-me os pés à babugem das águas, mojito en mano, ao fundo uma música qualquer daquelas que, daqui a uns anos, quando as ouvirmos, vamos sempre associar àquele verão. Apetece-me o livro adiado, o sono em dia, o corpo liberto, a mente livre das grilhetas de ser paga para pensar, para estar atenta, para traduzir em palavras as palavras dos outros, os pensamentos dos outros, as angústias dos outros. Apetece-me o silêncio. Apetece-me tempo para me concentrar nas minhas próprias palavras, nos meus pensamentos, nas minhas angústias, nos meus próprios ecos. Apetece-me parar no tempo.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Mãos - coração


Vale a pena dar de nós. Vale a pena esticar a mão. Às vezes somos mordidos, é um facto. Mas às vezes descobrimos uma mão firme que, apesar dos balanços da vida, aceita a nossa sem pedir mais em troca do que essa pequena generosidade. Obrigada pelas mãos que seguram a minha.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Anda uma mãe a criar um filho para isto

Ele há coisas extraordinárias. Na RTP1, uma história simples/mente complicada. Uma educadora de infância tinha a seu cargo uma sala com 28 crianças e andava há meses com sintomas de doença - tosses, rouquidão...

Só agora se confirmou: tem tuberculose activa. Claro que, agora, há umas dezenas valentes de crianças diagnosticadas com tuberculose latente e obrigadas a tomar quatro comprimidos por dia durante os próximos tempos.

Pergunta: independentemente da existência de um diagnóstico oficial, esta senhora não deveria ter percebido que, estando doente - mesmo podendo ser apenas uma gripe resistente, algo que se espalha como cogumelos - deveria afastar-se do contacto regular com aqueles meninos e meninas para não os contagiar?

E entregamos nós os nossos filhos todos os dias a gente assim...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

E o jeito que dá falar a sério uma língua estrangeira...



Querem uma camada de urticária? É ficarem atentos às promos do canal AXN desta semana. O rapazinho que faz a respectiva voz off até tem uma voz sexy - nunca será mais sexy do que a do Artur, que será feito de ti, rapaz? - mas, por amor da santinha da comunicação, aquilo é cada tiro cada melro, cada cavadela cada minhoca.

A jeitosa da Debra Messing passou a "missing".
O boneco do Jude Law passou a "low".
O falecido do Heath Ledger passou a "head".

E porrada, aceita-se?

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Armados em quê?


Oh pá, a sério, precisam mesmo que eu diga alguma coisa? Só se for que sugiro já aqui que façam o mesmo com os coveiros de Portugal, mas decorados com caveiras. Pode ser?

O Tó Colante


Para a malta não ficar na dúvida se o carro foi rebocado ou pura e simplesmente gamado, os senhores que mandam inventaram um autocolante para aplicar no passeio ou algures ali perto de onde a viatura se encontrava por forma à malta ficar com a certeza.

Ora tendo em conta que do que a cidade estava mesmo a precisar era de mais coisas coladas por aí, já estou a imaginar o cenário lindo que vai surgir em certas zonas de estacionamento selvagem.

Mas pronto, era isso ou melhorar o sistema de registo informático nos parques existentes e talvez dar emprego a mais uma ou duas pessoas na central telefónica para onde as pessoas telefonam a pedir a informação.

Assim, já alguém ganhou o "concurso" para fornecer os belos autocolantes amarelos. E, com sorte, quando dermos por isso, já alguma outra empresa ganhou outro "concurso" para criar brigadas para limpar a cidade...

Nós ficámos a ganhar o quê? Nem juízo, que continuamos a estacionar onde não devemos, certo?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

E a vida apanhou-a


Chamava-se Carmen. Era espanhola, ali de Cádiz. Deu um saltinho à California, mentiu na idade, recebeu uma inseminação artificial e, a um mês de fazer 67 anos, dava à luz gémeos - conseguiu o que queria e também ir parar ao livro Guiness de recordes.

Depois a vida apanhou-a. Acaba de morrer de cancro, aos 69.

p.s.: esta história não tem moral alguma, apenas duas crianças que ficam órfãs.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A romãzeira


Há pessoas que conseguem descrever momentos ao pormenor, viagens ao detalhe, emoções com minúcia. Assumo uma certa inveja. Às vezes gostava de poder recordar assim as coisas que vivo e tantas são.

Mas talvez por serem muitas, arquivo-as na alma com palavras de código. O fim-de-semana que fica para trás terá sempre como referência a romãzeira. Alguém saberá porquê?

sábado, 4 de julho de 2009

Tatuagem de vida


Todos temos medos. Medo disto, medo daquilo, muito medo de arriscar.
Medo de perder o pássaro na mão, de trocar o certo pelo incerto, de andar de cavalo para burro. E se não for para melhor? E se não correr bem? E se me arrepender?

Há pessoas que vivem tolhidas pelo medo. Não vivem, ponto. Sonham com os céus azuis riscados pelas suas asas esplendorosas - passam as noites no escuro a arrancar as próprias penas para que não seja possível ceder à tentação do risco.

O que é que podemos fazer para afastar o medo? Para o afugentar de vez? Não sei.

Mas sei que é possível acordar um dia e o medo que longamente se acalentou está desfeito em mil pedaços - como nuvens levadas pelo vento deixando brilhar um dia de sol que faz esquecer todos as horas cinzentas de angústia. Sei que é possível um dia chorar-se de vergonha pelo tempo que se esvaiu nos braços do medo.

Mas também sei que não há que olhar para trás. E que reconhecer o sabor do medo e saber que já o vencemos uma vez pode ser uma arma poderosa para ter no futuro.

Venha o futuro. Tatuado na pele, a cheirar a amor.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

O poder da escolha


Depois da mania de querer tudo calibradinho, finalmente a União Europeia lá pensou melhor e deixou que a fruta - entre outras coisas - pudesse chegar ao mercado de vários tamanhos e aparências.

Não era sem tempo. Para a fruta e legumes os mesmos direitos que para escolher um parceiro para a vida! Por que é que não haveríamos de ficar com o tipo baixinho, ossudo, careca e meio tocado, se é dele que gostamos mais?

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Travão, precisa-se!

Se há coisa que me põe os fernicoques em franja é alguém aproximar-se de mim pé ante pé e surpreender-me no último instante. Fico possessa, é um facto.

Sendo que isso não se aplica apenas às pessoas...
Depois de toda a comoção em torno dos combustíveis - greve, filas e tudo -, os preços baixaram e dei por mim a emocionar-me com o regresso ao tempo em que enchia um depósito na linha dos 40 euros.


Depois, a cada vez que voltava à minha gasolineira habitual descobria que, pé ante pé, assim como quem não quer a coisa, o precioso líquido tinha subido dois cêntimos, e dois cêntimos, e dois cêntimos.

Tenho facturas datadas com uma semana de diferença, a última delas a corrente, em que o que vos digo se prova: numa paguei 1,29 euros por litro, na seguinte 1,31, ontem 1,34! Portanto, os tais preços que disparam a polémica voltaram às alturas de antes e ninguém abre o bico. É tempo de férias, o sol brilha, está calor, caguemos nisso.

Argumentos? Lol! Quando baixa o petróleo o stock que têm ainda é do mais caro. Quando o petróleo aumenta, coitados, têm logo que aumentar mais um bocadinho. Estamos presos por ter carro e presos por não ter.

Não os mando roubar para a estrada - porque isso é precisamente o que eles andam a fazer...

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O desacordo



Vivo da escrita. Para o bem e para o mal. Vivo de transformar ideias, conceitos, discursos, factos, pensamentos em letra de forma. A língua portuguesa é a minha ferramenta de trabalho.

Até há algum tempo tomei a opção consciente de ignorar olimpicamente o novo acordo ortográfico. Ah, até isso chegar... Ah, estou-me marimbando... Ah, enquanto o pau vai e vem...

O pau vem aí. Dizem que vai entrar em vigor ainda este ano. E eu sentei-me a olhar melhor para o que aí vem.

E se algumas coisas fazem algum sentido, embora eu ache que tira a beleza a muitas palavras - como baptizar/batizar ou excepcional/excecional - outras são um verdadeiro crime ao bom entendimento entre os povos que tanto querem facilitar a comunicação.

Querem um exemplo ridículo? Passaremos de espectáculo a espetáculo. Aqui da minha varandinha sobre a língua pátria, um espetáculo seria não uma manifestação cultural mas sim um local onde se espetam coisas. Mas isso sou eu, que tenho mau feitio.

Mas há coisas bem mais sérias. Por exemplo? De acta passaremos a ata. Que eu saiba - mas quem sou eu... - ata é o presente do indicativo do verbo atar, na terceira pessoa do singular. Eu ato. Tu atas. Ele ata.
E eu é que me sinto atada perante tal desatanço diarreico-mental.

E de pêlo passaremos a pelo. Conseguem imaginar a confusão que isto vai dar? Eu consigo. Por isso prefiro um beber um copo para tentar engolir mais este sapo.

sábado, 27 de junho de 2009

Dúvidas metódicas


E se tudo isto for apenas o grande golpe do século para se escapar às dívidas monumentais?

E se Michael Jackson não está morto?

E se daqui a uns tempos começam a vê-lo às compras no Lidl de Singapura?

terça-feira, 23 de junho de 2009

Efeminação do macho nacional

As mulheres queixam-se: já não há homens como antigamente.

Não sou propriamente das que faz gala em usar a frase a torto e a direito, como umas quantas que conheço, mas subscrevo-a. Da minha varanda sobre o macho nacional avisto-os fraquinhos, muito fraquinhos. E a vários níveis.

O que mais me aborrece é provavelmente aquele em que parecem fêmeas. Aquela coisa do "oh-ele-deixou-me-estou-tão-traumatizada-não-sei-se-vou-conseguir-entregar-me-de-novo-a-outro-homem" ouve-se agora constantemente na boca dos meninos. Aquele jogo do não-vou-ligar-a-ver-se-ele-liga fazem-no eles. E amuam se não ligamos.

Dei por mim a ter pena dos machos a quem, noutros tempos, as fêmeas fizeram cenas parvas dessas. Felizmente nunca foi bem o meu estilo. Mas fui ombro para muitos que me diziam: mas porque é que a não sei quantas não pode ser mais como tu? Ora porra, porque se fosse como eu era só tua amiga, disse-lhe mil vezes.

E claro, casaram-se, tiveram dois meninos, meteram palitos um ao outro, e estão separados. Ela, que andava sempre naquelas ceninhas foleiras de gaja, é hoje uma divorciada toda para a frente. O pai dos filhos é apenas isso e o mundo é para viver, que nunca se sabe quando é que o amor pode voltar a cruzar-se connosco num dia em que até lavámos o cabelo.

Ele? Adoro-o. Mas raios me partam - não há semana em que não queira tentar saber que anda ela a fazer, se ainda fala dele, se a nova relação será a sério. E para ele? Ah, não. Está traumatizado, acha que não pode voltar a confiar em nenhuma mulher. E coitadas das desgraçadas que lhe caíram nas unhas nos últimos dois anos. Pagam pelo crime que não cometeram.

Como se não bastasse este estado das coisas, o que não faltam são nomes efeminados com os quais se pode baptizar os rapazinhos que vão nascendo - julgavam que eu tinha arrumado de vez o rol do registo civil?

Evo não deixam.

Mas Célio, Dálio, Élsio, Érico, Filomeno, Gildo, Gino, Guido, Ildo, Josefo, Lauro, Lídio, Liliano, Luzio, Magdo, Margarido, Marílio, Marto, Natálio, Susano, Tatiano e Vânio estejam à vontadinha.

Ou Sandro. Aliás, se estiverem mesmo tentados a dar cabo da vidinha do puto para o resto dos seus dias, chamem-lhe Sandro do Paraíso. Está na lista do "sim"...!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Não há justiça!

Uma pessoa chega de férias.
Uma pessoa vem de pázinha comprida para conseguir chegar ao ninho cagado para tirar aquilo dali pela surra lá mais para a noite.
Uma pessoa senta-se à mesa e estranha a presença de uma pomba estranha ali mesmo ao lado. Nah, não era o bebé crescido (vá lá entender-se como é que uma pessoa acha mesmo que é capaz de reconhecer um pombo no meio de milhares...).
Uma pessoa olha com mais atenção para ver quem raio se instalou no pedaço.
Uma pessoa não quer acreditar no que os seus olhos vêm.
Há dois novos ovos no ninho.

Porra! Alguém se importa de tirar o letreiro que diz Maternidade Avenida Almeida?!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Voa, voa...

Não há TV para ninguém. E agora que o pombo bazou - são uns ingratos, é o que é... - também não há aventuras mais ou menos aladas.

O que há é férias. Algo que, traduzido, significa: sem cheta para ir papar mundo, como gosto, fico por cá a cheirar a maresia (que ainda tenho frio para meter as nalgas nas ondas), a colocar os tão adiados rodapés novos lá em casa e assim a modos que a pintar umas coisas.

Tenho andorinhas nos olhos e onde já vai a Primavera.

sábado, 6 de junho de 2009

O alcatrão não engana

Ao que nos revelou o "Nós Por Cá", na SIC, há em Carnaxide uma rua a que chamam a "Estrada de Manteiga". O piso é de tal forma escorregadio, chova ou não, que os acidentes ali são mato e até dá para o incauto cidadão fazer patinagem artística se não se põe a fancos.


Por mim, montava-se uma bancada para assistir às batidas ao melhor estilo Stock Cars, vendia-se pipocas e bejecas e ainda podia haver uma barraquinha de t-shirts a dizer "Eu (ainda) não escorreguei".

Pronto, mas isto sou só eu. Que não gosto do conceito de desperdício.

Parado no tempo


Tinha 21 quando a malta se abanava e trauteava ao som da sua música. Agora tem 47. E não é que o sacana do Rick Astley continua um enxuto?! Abençoadinho.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Guerra Mundial da Passarada


O Zoo de Lisboa fez 125 anos. A RTP1 fez uma emissão especial directamente do largo dos hipópotamos. De repente rebenta a II Guerra Mundial mesmo em cima do colo da Tânia Ribas de Oliveira. Primeiro o pulo, depois a gargalhada, difícil de parar. A miúda começou a ser literalmente "bombardeada pelas necessidades dos pássaros". Quem ganhou? Bem, a própria Tanocas. Depois de almoço apareceu dentro de um vestido bem mais bonito do que a t-shirt e calças da manhã...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Limpeza, precisa-se!

Voou do ninho e não voltou. Quer dizer, voltou hoje. Durante uns dois minutos. Acho que era ele, mas já tinha reflexos esverdeados no pescoço e uma segurança estranha de quem já tem o seu caminho e não vai olhar para trás.

Parou na vidraça. Olhou-me, ali especado. Batuquei os dedos na janela, como antes, e nem estremeceu. Olhei para o computador por um instante, nem sei porquê. Quando voltei a fitar o parapeito, já lá não estava. Creio que desta vez é de vez.

Alguém se candidata a vir limpar esta porra deste ninho e destes vidros absolutamente nojentos? Pois, já sei. Quero limpo, limpo. Obrigadinha...

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Coração de mãe



Isto não é normal. Ainda ontem dava as primeiras esvoaçadelas e hoje já não pára no ninho. Há duas horas que não aparece. Será que lhe aconteceu algo de mal? Com que amigos andará? Serão boas companhias? Irá voltar para casa ao final do dia, sem noção de como me deixou ansiosa?

Quem foi o desgraçado que disse que isto era como ter um filho? Arre.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

E voou!

E, aos 28 de Maio do ano da graça de 2009, fez-se aos ares. Bateu as asas como se não houvesse amanhã e, com a respectiva progenitora, ensaiou o primeiro voo.

Meia volta e regressa ao parapeito, com um sobressalto de janelas numa aterragem atabalhoada que incluiu encontrão.

Agora está ali, muito parado, muito quieto, a olhar-me do lado de lá da vidraça, com quem diz: viste? viste?

Raios me partam! Sinto-me ligeiramente orgulhosa do meu bebé...

terça-feira, 26 de maio de 2009

Ei-la, arre!



Sim, agora que já consigo carregar fotos novamente, ei-lo: este é o bebé aqui da Maternidade Pombal. Sim, está um matulão. E em tais ânsias para voar!

E eu em ânsias para que voe. Estou mesmo farta de olhar pela janela e ver tanta porcaria...

domingo, 24 de maio de 2009

Filhos, como vos chamo?

Entretanto, só porque sim, encontrei mais meia dúzia de nomes próprios perfeitinhos para menina que não consigo entender como é que os senhores do registo civil não aceitaram.

Árpia
Aniquília
Castra
Roça
Saga
Vénia
Matricolina
Nárcia... Grande nárcia teriam os papás que tentaram esta, chiça!
Ah, e a minha absoluta preferida: Britta Nórdica.

Os rapazes não se ficariam a rir. Garanto. Senão notem:

Ardiles
Hemitério
Idílio
Rego
Patalino
Viking
E, adorável, absolutamente adorável, Satélite.

Se estão a pensar que, se conseguisse fazer o upload das fotos, escolheria uma delicada imagem de um satélite para ilustrar este pedacinho, pensem again. Há tantas palavrinhas tão mais sumarentas...

A luta continua

Sim, o pombo está bom, obrigadinha. Agora que, depois de ter visto os Globos de Ouro, passou a achar que afinal até era giro posar para o raio da foto por que tanto desesperei, não consigo elucidar-vos visualmente desse tremendo feito.

Sim, continuo sem conseguir meter fotos nesta grandessissississima gaita. Mas ainda não desisti. Raios partam se sou lá mulher de desistir.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Help, porra!

Estou irritada. Tenho notícias do pombo safardolas, foto inclusive, e logo agora o raio do blogue tinha que se engasgar e fazer desaparecer a barra através da qual carregava as ditas.

Alguém faz ideia de que raio se passa aqui?
Agradecida...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Vamos a votos!

No Facebook anda a correr um quizz que nos ajuda a descobrir o nome perfeito para um nosso rebento.
Saiu-me Leandro. blarghhhhhhhhhhh



Ainda assim é melhor do que Ursiciana.
Ou... Janardo. Ou Anquita.
Ou Urânia. Ou Prião. Ou Nádege.
Ou, suprasumo dos nomes estúpidos, Nausica.
Escolhido certamente por alguma mãe que muito sofreu durante a gravidez.

PS: ah, pois... estes, ao contrário do que estão para aí a pensar, não estão no rol dos recusados!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Pombo maldito

Como diria uma velhota que eu cá sei, ando num "desensufrimento" que não lembra ao diabo. Uma pessoa arma-se em provedora da maternidade dos pombos, toda querida, até a tirar fotos para a posteridade... E é renegada pelos ditos.

Agora que o sobrevivente tem tamanho para dar uma rica canja e deve estar quase a fazer-se à vidinha, mal me deixa fotografá-lo. Ele bem sai do ninho, vem espreitar à beira do parapeito a cidade aberta à sua frente. Ele bem esbraceja - leia-se aseja ou alea ou, porra, bate as asas, pois - e faz um escarcéu de cada vez que a progenitora aparece para abrir o bico e deixar-se penetrar até às entranhas para lhe dar de comer. Ele bem fica horas a fio encostado à minha vidraça a cuscar tudo o que escrevo no ecrã e a mirar-me sem pudor.

Mas assim que me levanto e abro a janela, telelé na mão para ir sacar a foto que me garantiria o prémio Richard Attenborough da vida semi-selvagem, parece uma enguia. Em dois segundos está refundido de novo no seu cantinho escuro, onde o sol mal chega e onde, está-se a ver, não consigo focá-lo, encavalitada periclitantemente sobre a avenida.



Acho que vou apresentar queixa no sindicato. Ou isso, ou pego numa vassoura e lá vai pombo e ninho e caca e tudo e tudo. Pronto, já desabafei.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Clube de fãs

Há dias, uma figura pública explicava que deu um determinado nome à filha não apenas por ser o de uma avó mas também por ser o de uma heroína de Dante. Tirando os nomes que passam de geração em geração dentro de determinada família, é comum também escolhê-los conforme a actriz que está na moda, o protagonista da novela mais popular do momento...

O rol dos nomes próprios autorizados e recusados pelo xerifes notariais cá do burgo também denota essa inspiração ou tentativa de demonstrar admiração. Com mais ou menos bom gosto...

O próprio do Dante, por exemplo, poderá ser perpetuado por cá quantas vezes se quiserem. É um dos nomes na lista dos 'sim'. Outros 'sortudos' são Vasco da Gama - assim mesmo, como conjunto! -, Cleópatra, Verdi, Salazar, Sócrates...
Menos surpreendente é o facto de haver muita inspiração também em futebolistas. Os conjuntos Luís Figo e Hugo Leal são permitidos, imagine-se.

Curiosamente, Luís de Camões não teve essa sorte, nem Nuno Álvares, ambos recusados, tal como o mais contemporâneo Nazareth Fernandes. A lista dos negados é longa. Mas curiosa. Eanes, não. Estaline, Fidel, Evita, Garibaldi, Samora Machel, Guevara, Lenine, Marx, Ghandi ou Gandi, nem pensar.

Gente das letras? Nega para Amastor (um diminutivo carinhoso de Adamastor, numa referência clara a 'Os Lusíadas', está-se mesmo a ver), bem como para Lusíada, Camões, Benur, Carenina, Garrete, Sandokan, Ivanoi, Jivago, Verlaine.

Gente da música? Nem pensar em Lenon, Palma, Nikita, Claudisabel, Coltrane, Elvis, Vinicius, Gal, Vagner, Santamaria, Zion, Gardel, Montiel, Hendrix ou sequer Iglesias. Ah, pois. Nem sequer Marilú - embora não conceba em que circunstâncias alguém que conheça a canção possa querer chamar tal nome a uma criança...

Referências da banda desenhada e animação? Ortigão? Ruca? Vicki? Hervê? Hérbi? Heidi? Mogli? Népia.



Houve quem tentasse Donatela, decerto numa referência à família Versace. Sem sorte. Faradiba, a puxar ao sangue azul. Nada disso. Fitipaldi. Népia. Marcantónio - olha o del Carlo na berlinda. Negativo. Rangel. Talvez se fosse Moniz... Mona Lisa? A criança estava lixada para a vida e foi também recusado. Nereida? Bem, ia ser ainda pior. Também não deixaram.

Mas, oh senhores, a dose de nomes relacionados com futebol é impressionante. Benfica, Neca, Platiny, Distéfano, Robson, Maradona e Futre foram tentados e todos bateram na trave.
Por mim gostava que permitissem o Benfica. Mas só nos dias em que não empatam com o Trofense, porra.