Sou jornalista. A minha ferramenta é a língua mátria, tenho orgulho nela, esmero-me para usá-la com mestria. Não peço poesia, só um português escorreito. Se rezasse creio que seria por manter essa capacidade que rezaria. E saúde talvez, que dá sempre jeito. E amor, claro, mas é esse é outro campeonato.
Vê-la mal utilizada - a nossa língua - dói-me na alma. E não falo sequer da escrita com K ou das abreviaturas de miudagem fofinha (blargh!) que atira 'miga' e 'bigado' a torto e a direito - como se, em vez de pouparem nos trocos que trazem no bolso, andassem a poupar em letras...
Falo de um há com agá onde devia estar sem agá e sem agá quando devia tê-lo. Um 'disse a ele' em vez de 'disse-lhe', que isto de conjugar o reflexivo parece que é mais difícil do que atingir o topo do Anapurna. 'Você' e 'conhece' e outras palavrinhas assim, todas cedilhadas como se fosse fino andar de perninha pendurada em cê que se preze. Um 'gostas-te' no lugar de 'gostaste', que o hífen também deve estar em saldos.
Cruzar um texto e encontrar um 'intristesse' e ficar eu entristecida. Ler os comentários a um blogue e encontrar a palavra 'rigozija', já de si estropiada e, ainda por cima, fora de contexto, claramente quem a usa não sabe o que significa.
Podia continuar a somar exemplos, tantos deles saídos das mãos de outros jornalistas que, supostamente, também levam esta profissão a sério. Mas são farpas que se cravam no meu brio corporativo e não quero entrar em 2010 ainda a sangrar.
Será tolice minha usar uma das doze passas da meia-noite para pedir que cada português se esforce no novo ano por não estropiar diariamente a língua materna? Talvez não. Afinal, pedir não custa, certo?