Chamo-lhe cansaço como lhe podia chamar outra coisa,
chamo-lhe cansaço por estar demasiado cansada
para pensar noutra coisa para lhe chamar,
chamo o cansaço por que não quero chamar a tristeza
e sei que ela viria, bastava um aceno.
Chamo-lhe cansaço e aceito-o.
Não tenho forças para discutir comigo mesma.
* escrito para o quadro de Albert Joseph Moore e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
quarta-feira, 24 de abril de 2013
Selvagem
Tenho um cavalo selvagem
algures no meu olhar
Não me prendas
não me prendas que te fujo
* escrito para o quadro da pintora australiana Lori Pensini e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
algures no meu olhar
Não me prendas
não me prendas que te fujo
* escrito para o quadro da pintora australiana Lori Pensini e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
Viajar
Queria um livro
que me desse o mundo
assim sem mais
e talvez a capacidade de viajar
no tempo
* escrito para o quadro de Kristyna Litten e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
que me desse o mundo
assim sem mais
e talvez a capacidade de viajar
no tempo
* escrito para o quadro de Kristyna Litten e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
Gato escondido
No jardim, o sol de inverno
mistura-se com os pardais
e há um gato escondido na árvore
lá atrás
abre-se um estore na casa amarela
e um homem passeia um cão e um filho
e outro vai para o trabalho
sem reparar no estore
ou no cão ou no miúdo
ou no outro homem
ou nos pardais
Como daria sequer pelo gato escondido
na árvore pela minha imaginação?
* escrito para o quadro de Anna Hymas e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
mistura-se com os pardais
e há um gato escondido na árvore
lá atrás
abre-se um estore na casa amarela
e um homem passeia um cão e um filho
e outro vai para o trabalho
sem reparar no estore
ou no cão ou no miúdo
ou no outro homem
ou nos pardais
Como daria sequer pelo gato escondido
na árvore pela minha imaginação?
* escrito para o quadro de Anna Hymas e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
Voos
Pediram-me um pássaro
e os olhos encheram-se-me de penas
e de páginas
e de pensamentos que podiam
vir dentro de um livro
Abri as asas
e pousei aqui.
* escrito para o quadro de Yoko Tanji e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
e os olhos encheram-se-me de penas
e de páginas
e de pensamentos que podiam
vir dentro de um livro
Abri as asas
e pousei aqui.
* escrito para o quadro de Yoko Tanji e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
terça-feira, 23 de abril de 2013
Inventário
Inventa-me uma rocha alta
acima das nuvens
Inventa-me um tempo recuado
mais de cem anos
Inventa-me um conto curto
menos de seis páginas
Inventa-me um amor perfeito
só eu e tu
e depois deixa-me.
Poucos saberiam viver
dentro deste inventário
e não serás excepção
* escrito para o quadro de John George Brown e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
acima das nuvens
Inventa-me um tempo recuado
mais de cem anos
Inventa-me um conto curto
menos de seis páginas
Inventa-me um amor perfeito
só eu e tu
e depois deixa-me.
Poucos saberiam viver
dentro deste inventário
e não serás excepção
* escrito para o quadro de John George Brown e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
Nariz de cão
Toda a poesia do mundo se concentra
no nariz de um cão molhado
e não se atrevam a desdizer-me
que o sei e não foi de ler nos livros
nem de me perder nos prados da imaginação
* escrito para o quadro de Fiep Westendorp e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
no nariz de um cão molhado
e não se atrevam a desdizer-me
que o sei e não foi de ler nos livros
nem de me perder nos prados da imaginação
* escrito para o quadro de Fiep Westendorp e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
Caos e circunstância
Molhada como a alma
que todos os dias nada cem piscinas
nas lágrimas que sobram
dos dias de sol
Iluminada pelos relâmpagos
Abalada pelos trovões
Apaixonada pela natureza
em caos e circunstância
Vontade de largar o livro
e ir saltitar nas poças que fez a noite
que todos os dias nada cem piscinas
nas lágrimas que sobram
dos dias de sol
Iluminada pelos relâmpagos
Abalada pelos trovões
Apaixonada pela natureza
em caos e circunstância
Vontade de largar o livro
e ir saltitar nas poças que fez a noite
* escrito para o quadro de David Dunlop e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores. |
Escassez
Hoje não tenho
poesia para ti
há barcos no mar sem peixe
e sombras no chão sem árvores
e sandes despidas de queijo
E a nespereira carregada de fruta
foi trucidada por quem não
distingue o maduro do verde
e há um cão que gane na minha rua
como se lhe tivessem roubado
os sonhos
Não sobra poesia no bolso
onde guardo a vida
* escrito para o quadro de Paul Honatke e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
poesia para ti
há barcos no mar sem peixe
e sombras no chão sem árvores
e sandes despidas de queijo
E a nespereira carregada de fruta
foi trucidada por quem não
distingue o maduro do verde
e há um cão que gane na minha rua
como se lhe tivessem roubado
os sonhos
Não sobra poesia no bolso
onde guardo a vida
* escrito para o quadro de Paul Honatke e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
O príncipe no colo
Há um príncipe que vai saber ler
como quem ergue castelos
na espuma das ondas
como quem encontra diamantes
nas corolas das flores dos jardins
Vai saber ler os olhos dos que amam
e as lágrimas dos que partem
Os silêncios dos que ficam
com bicho carpinteiro nos dedos dos pés
As palavras dos que nelas voam
sem terem asas
E um dia vai saber ler também o livro
que ao colo lhe lês agora
nas tardes infindáveis de outono
* escrito para o quadro de Joyce Abbe Fox e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
como quem ergue castelos
na espuma das ondas
como quem encontra diamantes
nas corolas das flores dos jardins
Vai saber ler os olhos dos que amam
e as lágrimas dos que partem
Os silêncios dos que ficam
com bicho carpinteiro nos dedos dos pés
As palavras dos que nelas voam
sem terem asas
E um dia vai saber ler também o livro
que ao colo lhe lês agora
nas tardes infindáveis de outono
* escrito para o quadro de Joyce Abbe Fox e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
Porque chove
Escrevo o livro com as tuas lágrimas
junto-as como letras na nuvem da tua página
mais meia dúzia de hieróglifos
que só o teu coração entende
dizem que é Outono
sei apenas da saudade
* escrito para o quadro de Eric Drooker e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
junto-as como letras na nuvem da tua página
mais meia dúzia de hieróglifos
que só o teu coração entende
dizem que é Outono
sei apenas da saudade
* escrito para o quadro de Eric Drooker e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
Cruzamento
Chamam-lhe a vida
quando nos cruzamos assim
e descruzamos em seguida
sabendo de certeza feita
que devíamos ter parado de correr os dias
e caído nestes braços
e lido a meias este mesmo livro
Chamam-lhe a vida
e é a que temos
quando vivemos assim
contra-relógio
* escrito para o quadro de Adrian Tomine e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
quando nos cruzamos assim
e descruzamos em seguida
sabendo de certeza feita
que devíamos ter parado de correr os dias
e caído nestes braços
e lido a meias este mesmo livro
Chamam-lhe a vida
e é a que temos
quando vivemos assim
contra-relógio
* escrito para o quadro de Adrian Tomine e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
Existência
Há um homem no alto de ti
sentado sobre tudo o que leu
há uma mulher, algures,
talvez encerrada num livro
há uma voz que cheira a papel
e há nuvens que trazem enredos
há figuras de estilo
embrulhadas para presente
esquecidas sobre a mesa
à espera de outro natal
e há uma história que não contas
não vá a realidade tecê-la
* escrito para o quadro de Eric Drooker e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
sentado sobre tudo o que leu
há uma mulher, algures,
talvez encerrada num livro
há uma voz que cheira a papel
e há nuvens que trazem enredos
há figuras de estilo
embrulhadas para presente
esquecidas sobre a mesa
à espera de outro natal
e há uma história que não contas
não vá a realidade tecê-la
* escrito para o quadro de Eric Drooker e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
O intervalo
Faz-se o intervalo
e descobrem-se nas entrelinhas
as traças que devoram
o que é belo
e o que é importante
e o que é simples
e deixam apenas os enredos
mais obscuros
e os mais amargos
dentre os finais
Nem todos os livros
merecem a capa que envergam
* escrito para o quadro da pintora Sarah Joncas e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
e descobrem-se nas entrelinhas
as traças que devoram
o que é belo
e o que é importante
e o que é simples
e deixam apenas os enredos
mais obscuros
e os mais amargos
dentre os finais
Nem todos os livros
merecem a capa que envergam
* escrito para o quadro da pintora Sarah Joncas e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
Nudez
Abraço a nudez
que sinto
ao ler-te
Sei-me despida de mim
* escrito para o quadro da pintora Alexandra Muirhead e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
que sinto
ao ler-te
Sei-me despida de mim
* escrito para o quadro da pintora Alexandra Muirhead e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
Quase ao almoço
Nada alegra tantos os meus dias
quanto não te ter neles
Há um silêncio na casa que me permite ler.
Mas podes voltar amanhã.
E trazer um livro novo,
que termino este não tarda nada.
* escrito para o quadro do pintor Tim Ashkar e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
quanto não te ter neles
Há um silêncio na casa que me permite ler.
Mas podes voltar amanhã.
E trazer um livro novo,
que termino este não tarda nada.
* escrito para o quadro do pintor Tim Ashkar e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
Na cor
Reconheço a capa do livro
que a tua mão segura
como reconheço a exuberância na decoração
as flores multicores
o fervilhar intenso dos jogos de luz
o teu olhar concentrado
naquelas linhas daquela página
que ainda hás-de citar
de cor
* escrito para o quadro da pintoraLucy Doyle e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
que a tua mão segura
como reconheço a exuberância na decoração
as flores multicores
o fervilhar intenso dos jogos de luz
o teu olhar concentrado
naquelas linhas daquela página
que ainda hás-de citar
de cor
* escrito para o quadro da pintoraLucy Doyle e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
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