quarta-feira, 25 de julho de 2012

Visão de pássaro

Tinhas pássaros nos olhos
e voavam com cada página.
 
Voos rasantes, outros altos
penas soltas pairando no ar
recortes da alma por entre
as nuvens baixas
 
a ocasional anotação na margem da página


 * escrito para o quadro de Rick Beerhorst e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.

Ler o Verão

Faz de conta que sou a tua leitura de verão,
o livro adiado à espera de um dia de sol.
Faz de conta que sou a página que te deixa preso
e relês vezes sem conta.
Faz de conta que há um jardim assim.
 
Não sabes que o maior prazer das árvores
é ver os seus mortos transmutados em livros?
* escrito para o quadro de Jonathan Burton (já de si inspirado e homenageando Seurat) e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.

É segunda

Dobro-me sobre mim
mesma
mal respiro
para caber nas
páginas do livro
que leio

Que dores estranhas terei
chegando
a última página?

  * escrito para o quadro de Andrew Hughes e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.

sábado, 14 de julho de 2012

Dia santo

Diz que é sábado e que foi à missa.
Divertia-a ver a cara das beatas quando chegava, siamesa, livro sagrado na mão, sensual como Madalena.
...
E conseguia adivinhar o sexo do sacristão a entumescer sob a batina quando murmurava o 'Salve, Regina': "Ad te suspiramus gementes..."
Já ninguém fala latim, pois não? 

 * escrito para o quadro de Charlie Terrell e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.

Diz que há poesia




Porque há poesia
até no silêncio das mãos
desenha no ar
o que sentes
as estradas por percorrer
e as luas que já contaste
afaga sem medo
o futuro que há-de vir

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Por todas as razões




Por todas as razões do mundo
e por nenhuma delas
espero a morte
sorrindo-lhe
olhos nos olhos

E no lodo do cais enterro
os restos mortais
daquilo que nunca foi aquilo
que pareceu

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Claridade

São os jogos de luz
e sombra
que me prendem a ti,
a cada página que folheio.

São os contrastes que me fazem
amar-te.

São os cruzamentos inesperados
que te fazem livro
e a mim ligeira,
a caminho de algum lado,
cavalgando a claridade.

* escrito para o quadro de Tadahiro Uesugi e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.