segunda-feira, 30 de abril de 2012

Ódio manso


Quero o teu nome
tatuado no meu peito
à força
das tuas unhas

Quero-o em sangue.
Indelével.

Quero recordá-lo
em dor
em fel
em cicatrizes enormes
como cartazes
de aviso aos incautos.

Quero-o bem perto
dos lábios que te beberam
dos dedos que te percorreram
sem adivinhar
o fedor
que a tua pele deixaria
na minha.

Quero o teu nome
presente como relâmpagos
na minha memória.

Para que não se apague
este ódio manso
que me permite guardar-te
para sempre
a meu lado.

sábado, 28 de abril de 2012

sábado, 21 de abril de 2012

Isto é um assalto

Cada vez que te abraço
sinto que te assalto


Sinto que roubo
o que é meu por direito,
como quem saqueia
um tesouro
que já lhe pertence

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Página a página


Visto-me das folhas que despes quando te leio.

Página a página, dedos percorrendo-te sem medo das vírgulas ou travessões. Entusiasmada na expectativa do ponto de exclamação que nos une num só, equilibrando pontos de interrogação que teimam em surgir.

Visto-me das letras que deixas na almofada ao amanhecer, quando sais de mansinho, livro levantado na biblioteca para ser lido por outros. Até voltares a casa e à ponta dos meus dedos.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Indomável


As nuvens vão cheias
de pressa
em direcção ao nada,
cavalgam o vento
indomável,

os meus olhos
vão com elas
ver o mundo
que lhes falta.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Presente mais-que-perfeito


Gosto de chegar a ti
quando o sol se põe,
o lusco-fusco se instala,
quando atravessamos em pontas
o limbo entre o dia e a noite

Gosto de chegar até ti
na hora em que os gatos são pardos
e os cães fazem silêncio

Quando não é amor nem ódio,
nem rio nem mar,
e os meus pés estão
na areia húmida,
ainda não na água

As minhas mãos
a milímetros do teu rosto
e ainda não o tocam

Chegar a ti
quando a meio entre
o que ainda não somos
e o que um dia seremos,
presente mais-que-perfeito