Em algum dia fomos assim
criança de livro na mão
sonhos por sonhar
quanto mais viver
e todos os pássaros no olhar
* escrito para o quadro do pintor espanhol Jose Enrique Pinaglia e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
sábado, 29 de setembro de 2012
Na relva
Deixa-me morrer assim, estiraçada na relva, descalça, olhos postos nas nuvens.
Deixa-me morrer assim, um livro aberto numa página bonita
- espero que não se levante o vento e a mude,
baralhando a minha última vontade
e testamento final.
Deixa-me morrer assim, a achar que vão recordar-me
e testamento final.
Deixa-me morrer assim, a achar que vão recordar-me
e sentir vagamente a minha falta quando,
em dias assim quentes e húmidos,
avistarem alguém estiraçada na relva, descalça, olhos postos nas nuvens
e um livro aberto.
Quem sabe numa página bonita
Quem sabe numa página bonita
* escrito para o quadro do pintor sérvio Vladimir Dunjic e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Um abraço
Importa o que se lê?
Importa se as letras que se juntam
falam de algo que morreu
de passados que passaram
de futuros que não se sabe se teremos?
Importa se a sequência em que se completam
ilustram estados de alma
paixões rasgadas
ou meros reflexos de luz numa gota de água
que se equilibra perclitantemente
numa pétala?
Importa se as palavras se aninham
umas nas outras
para simular o teu abraço?
* escrito para o quadro da irlandesa Daire Lynch e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
Importa se as letras que se juntam
falam de algo que morreu
de passados que passaram
de futuros que não se sabe se teremos?
Importa se a sequência em que se completam
ilustram estados de alma
paixões rasgadas
ou meros reflexos de luz numa gota de água
que se equilibra perclitantemente
numa pétala?
Importa se as palavras se aninham
umas nas outras
para simular o teu abraço?
* escrito para o quadro da irlandesa Daire Lynch e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
Detalhes
Às vezes não passa de um detalhe
uma vírgula no teu olhar
uma reticência na forma
como as tuas mãos alcançam a minha
Às vezes não passa de uma gralha
uma palavra que saiu trocada
da tua boca
uma conjugação do verbo amar
num presente mais que imperfeito
Às vezes não passa de um rabisco
que displicente traças
na margem do livro
que andamos a escrever
Mas tudo me diz
que eu e tu
não pertencemos
ao mesmo poema
* escrito para o quadro da alemã Annette Schmucker e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
uma vírgula no teu olhar
uma reticência na forma
como as tuas mãos alcançam a minha
Às vezes não passa de uma gralha
uma palavra que saiu trocada
da tua boca
uma conjugação do verbo amar
num presente mais que imperfeito
Às vezes não passa de um rabisco
que displicente traças
na margem do livro
que andamos a escrever
Mas tudo me diz
que eu e tu
não pertencemos
ao mesmo poema
* escrito para o quadro da alemã Annette Schmucker e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Peço escusa
Peço escusa, sr. dr. juiz,
Peço escusa à dor
que a conheço de outros carnavais
Peço escusa ao abismo negro
das lágrimas
Ao portão imenso
que delimita a minha loucura
Peço escusa
encarecidamente
sr dr juiz
à negritude de alma
que sei como tolda a vida
Peço escusa ao sofrimento
auto infligido
Prefiro a infinita ingenuidade
de achar que todos os dias
são recomeços
e todos os dias posso fingir que sou feliz
E todos os dias posso dar
chapadas de luva branca aos que choram
e se lamentam
e se arrastam
Como me arrasto por dentro
quando me permito
ser apenas eu
Peço escusa sr. dr. juiz
às chaves da minha angústia
Prefiro os muros altos que criei
e a solidão que significam
à compaixão que abomino
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