terça-feira, 31 de agosto de 2010

Arsenal


Desenho um círculo de amor
à tua volta
e obrigo-te a render

não há arma mais poderosa
do que um coração convicto

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sorri. É a segunda melhor coisa que podes fazer com esses lábios...


Ou então beija-me.
Beija cada milímetro de mim
cada recta, cada curva
cada detalhe escondido
no corpo que é o meu.

Beija-me as noites de insónia
e os sorrisos de sol,
os disparates adolescentes
e as conversas sérias.

Beija-me as dúvidas cheias de certezas,
o coração convicto que não vacila.

E beija, amor, as palavras que ainda não te disse
mas que sei que sabes que direi.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Verbo


Quero escrever a angústia que me vai por dentro.
Quero arrancá-la de mim, letra por letra. Talvez assim a minha alma amarfanhada recupere o jeito de dicionário organizado de A a Z.
Quero pôr no papel esta dor que me consome, traduzi-la para todas as línguas que conheço para que ninguém lhe fique indiferente.
Quero encontrar sinónimos para o fel que se agiganta cá dentro e antónimos que sirvam para conjurar a magia das palavras que me vão salvar.
Quero desatar em poesia este aperto que me rói, fazer quadras com a aflição, versos de pé quebrado para enxotar o tormento.
Quero tão pouco, não mais do que ser amada.
E contento-me em respirar todos os dias - sabendo que, apesar de tudo, o coração ainda mora no condomínio deste peito que é o meu.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Coisas


Tenho coisas a dizer-te.
Coisas que só devem ser ditas
da minha boca para os teus olhos,
para que nela vejas
o coração a espreitar.

Tenho coisas a dizer-te.
Coisas que não passam.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Obrigada

Às vezes tenho a sensação de que escrevo aqui para o boneco. De que falo para o vento - e por que seria de outra forma se pouco do que digo/escrevo tem real importância para o mundo? Não tenho resmas infindáveis de comentários, fãs indefectíveis daqueles que vêm dizer amén a cada peido em letra de forma (que nojo metem ao invés de afagarem egos), prémios fofinhos que não importam um chavelho, sequer sou mencionada nas listas subjectivas dos blogues que estão na moda. Também de nada disto sinto a falta, admito-o. O mais provável seria roubarem-me do prazer de achar que ninguém me lê e que, por isso, posso escrever o que me der na realíssima veneta.

Ainda assim sinto-me por vezes um fantasma agarrado às teclas. Mas só até andar por aí a chariscar o mundo blogueiro e dar com um link para este cantinho num tasco de que nunca ouvira falar antes, que não faço ideia a quem pertence e a que, devo dizer, não reconheço o estilo ou as histórias. Algures por aí no mundo virtual alguém achou que as minhas linhas ao vento mereciam passar a vir inclusas no rol de sítios a visitar.

Arregalei os olhos, carreguei na ligação - não fosse haver por aí outro blog com este nome, sei lá - e voltei aqui para vos contar, a uns quantos que reconheço e aos outros que entram, lêem e saem em bicos de pés, sem fazer barulho para não incomodar a fera, que durmo esta noite com um sorriso acompanhado.

Qual?

Tive uma fase em que lia mais Lobo Antunes. Tive outra em que lia mais Saramago. Escolher um dos dois nunca fez sentido. Até porque, de vez em quando, um deles fala/escreve como se de dentro de mim.

"Fazes-me falta, meu cabrão, há tanto para contarmos um ao outro. O fim de um amigo é um martírio, não páras de te agitar cá dentro, raios te partam" ... escreveu um deles. Adivinham qual?

(E sim, já vi maneiras mais subtis de chocalhar a saudade)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Gastronomia


Tirei o coração
da redoma protectora
onde a tua mentira o guardou
durante tanto tempo.

Servi-to de bandeja.

Provaste, cuspiste
e, displicentemente,
deixaste o que sobrou,
em sangue,
à beira do prato.

Há pessoas que não sabem apreciar
quando se lhes oferece uma iguaria.