quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Olhando as estrelas

Tenho andado atascada. E há dias em que, de tão atascada, me sinto velha.

Depois entrevista-se a Alice Vieira e ela diz-me: desde quando é que há limite de idade para justificar o que podemos e não podemos fazer? E eu penso: a partir de quando é que somos velhos? Não é idosos, nem séniores, que isso é conversa de políticos e cartões de descontos.

E, na práctica, estou-me marimbando para a idade que tenho, só conta mesmo o que o corpito aguenta. Mas diverte-me fazer anos. Melhor, somar anos. Poder atirá-los assim crescidinhos à cara de quem é tão tonto ou cegueta que me vai dizer logo a seguir: ah, não pareces nada.

De repente, lembrei-me: vamos lá ver quantos anos faria se fosse natural de outros planetas. Pois em Mercúrio estou mesmo a cair da tripeça - levo 177 anos e meio. Em Marte, onde "passei uns tempos", continuo uma pita tonta, do alto dos meus quase quase 23. Em Júpiter e Saturno estou a dar os primeiros passos, digamos assim.


Mas em Vénus... em Vénus é que eu estou bem. Tenho 69 anos. Um número bonito. E, ainda por cima, faço anos já a 19 de Dezembro que, ainda por cima, é um sábado - o que dá imenso jeito para celebrar. Velha? Bah!

(http://www.minerva.uevora.pt/ticiencia/estrelas/idade_noutros_planetas.htm)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Carneiros


Marquês de Pombal, saída do túnel das Amoreiras. Há meses um qualquer veículo chocou contra as vedações, rebentando uma.

Há meses que carradas diárias de carneiros idiotas acham que é mais interessante atravessar no meio dos carros para aproveitar a abertura do que descer meros dez metros e fazê-lo em segurança no semáforo e passadeira.

Um dia destes levo um a eito. Depois ato-o em cima do capot e vou entregá-lo aos incompetentes da CM de Lisboa...

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Adopção


Nasceu num momento de ócio, filho da falta de talento.
Viveu num canto escondido, progenitura envergonhada.
A morte foi-lhe anunciada.
Mas algum pudor fez com que ficasse apenas ali, meio de pé, meio caído, junto ao caixote do lixo, a meio de uma tarde solarenga.
Meia hora depois já lá não estava.
Espera-se que viva feliz, à luz de outros olhos que lhe encontrem a beleza que nunca teve. Felicidades.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Cruzamento


Acabei de me cruzar com uma joaninha.
Não me cumprimentou.
Não lhe levei a mal.

A ilha deserta e coisa e tal


Ciclicamente há alguém que me vem com a conversa sobre o que levaria ou deixaria de levar se me fosse refugiar numa ilha deserta ou algo assim. Acho que esta semana o ciclo estava a fechar-se mais uma vez e a perguntinha lá veio. "E só podes escolher uma coisa." Larguei uma daquelas minhas atoardas que colocam logo a pessoa do outro lado do portão e segui à minha vidinha, que tinha mais que fazer.

Alguma coisa me ficou cá dentro a roer. Sim, se querem saber sou mulher de listas. Em papel, sim. A lista do que vou precisar quando vou às compras. A lista do que vou meter na mala quando vou de viagem. A lista dos livros que tenho de determinados autores. A lista das coisas que quero fazer em casa assim que tiver dinheiro para mais um raide decorativo. E sim, a lista das coisas em que seria obrigatório agarrar se a casa pegasse fogo e tivesse que fugir em cuecas, um rol que, graças às novas tecnologias se transformou em algo como isto: um CD com fotos escolhidas das pessoas da minha vida; um CD com os documentos relevantes todos digitalizados; um CD com textos e missivas várias e, last mas definitivamente not least, um certo e determinado objecto.

Com isto arrumado na minha cabeça, roia-me o quê então? Entro no carro, dou à chave. De imediato, como sempre, a rádio dispara. No ar paira uma canção de outros tempos. E eu soube o que levaria para a dita ilha deserta ou coisa que tal: música. A forma como me faz sentir, como me liberta, como me toca pela harmonia, permitir-me-ia, só por si, abdicar de quaisquer posses, recordar rostos queridos e quadros intensos, relembrar textos meus e de outros, imaginar mil livros novos, diferentes a cada dia, e saber que aquele objecto que anda sempre comigo não precisa de andar sempre comigo para nunca me abandonar.