quarta-feira, 24 de março de 2010

Pollock, pois


Estou assim. Sem palavras.
Cada vez que penso em qualquer coisa saltam-me imagens aos lábios. Esta noite tudo o que digo ou deixo por dizer soa a Pollock.
Um emaranhado de luz e escuridão, rasgos de sangue e suor aqui e ali, sabedorias que não vêm nos livros torcidas e retorcidas pela experiência de viver. Um gesto de impaciência, uma alegria desconcertante.
E as mãos pousadas no regaço, sedentas do pincel que está arrumado há tanto tempo. E que não estivesse. Nunca teria a eloquência de Pollock, entendes?

sábado, 20 de março de 2010

Aceleras


Yupi! Já existe uma primeira moto de 250cc produzida em Portugal, ali para os lados de Penafiel. Palminhas, palminhas! Até prometem "a sensação da competição a quase metade do preço" , isto é, por apenas 4.850 euros, porque tem um motor que não inclui radiador de água nem termóstato.

E, imagine-se, a pré-série de 150 exemplares até já está esgotada, graças a encomendas do estrangeiro. O que vale é que o mundo está em crise, mas para os marmanjos terem o último grito de uma tecnologia qualquer - seja uma mota, um televisor, um computador, um telemóvel... - não falta dinheiro.

Sim, sim. Sou eu que tenho a mania que as prioridades desta gente anda toda trocada, eu sei.

sábado, 13 de março de 2010

Som familiar e nesga de sol


Sento-me aqui e lá fora há um amolador. Não, não é um extemporâneo toque de telemóvel, não lhe tem a urgência patética. É um som lânguido, intemporal, que chega a esta janela no segundo andar, meio misturado com o ruído da bicicleta apeada – e uma voz de criança pequena, decerto pela mão de alguém.

Não sei porque insiste neste bairro, nunca vi abrir-se-lhe uma porta, descer uma daquelas velhas anafadas com uma tesoura embotada, aparecer na esquina um rapaz com borbulhas na cara e um velho canivete na mão.

Às vezes acho que só vem aqui quando sabe que estou em casa, para tocar duas ou três vezes a sua gaita dolente, e desaparecer na esquina seguinte.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Sai um momento de gaja para a mesa do canto

Os Oscares na mesa e vai daí elegem-se as mais jeitosas e as mais mastronças da festa. Eu, que não enfio um vestido vai já para o século passado, os santinhos me poupem e guardem, também olhei e coiso e tal.


E logo me fui apaixonar por um dos vestidos que mais porrada levou este ano. O da giraça da Charlize Theron, em rosa, ametista e lilás, criado pelo John Galliano para a Dior. Está bem esgalhado, as rosetas no peito não são excessivas, que o peito é maneirinho, fica-lhe a matar.


Sabem o que me dana realmente? Que as mesmas entidades superiores que agora estraçalham o vestidinho (e não, não estou a falar das rainhas da H&M cá da terra) tenham sido as mesmas que - olha... no século passado! - acharam o máximo do iluminismo estilístico o bustier de mamas em bico que o mesmo senhor criou para a Madonna...

Mas pronto, isto sou só eu, que ainda me lembro de umas coisas.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulher


Leio as veias
neste corpo estranho,
mapa de estradas
de quem sou,
sem sul ou norte.

Leio as linhas
que cruzam o rosto,
guias para
dentro de mim,
fraca ou forte.

Leio na mente
o que não digo,
silêncio que
todos teremos,
a morte.

Citação


"O meu vício é apaixonar-me. Uma coisa patológica. Um hábito repetitivo que degenera sempre em merda e causa prejuízos vários. Não que me apaixone por tudo e por nada e por dá cá aquela palha, até porque dá muito trabalho e é deveras cansativo garantir uma vida que satisfaça este instinto cavernoso de entrar na alma das outras pessoas e virá-las do avesso. Ninguém aguenta viver sempre num pico igual ao Everest. Até porque isso gela o nariz."
by Mónica Marques

quarta-feira, 3 de março de 2010

E já agora...


Já agora que estou com a mão na massa... A PSP - com agentes fardados e à paisana! - vai passar a andar por aí entusiasmada a multar peões que atravessem fora das passadeiras, coimas de seis a trinta euros cada. Ao que parece é uma missão para tentar diminuir os atropelamentos, o que, à partida, soa lindamente.

Mas, tendo em conta que quando uma velhinha é assaltada por esticão no meio da rua nunca há um polícia à vista, sempre quero ver quantos aparecem para multar a mesma velhinha se ela não for à zebra...

Perguntinha impertinente - ou será impenitente?


Estamos em tempo de crise. Há gente a viver no limiar da pobreza. Em cima disso, estamos em tempo de catástrofes várias, pelo que há gente a viver no nada, apenas com a roupa que tem no corpo. São dados adquiridos, certo?

Apesar disso, o Patriarcado está a preparar-se para pagar 200 mil euros para um palco todo XPTO, alegadamente inspirado nos seixos do Tejo, que querem colocar em cima do mega maltratado Cais das Colunas, ali no Terreiro do Paço, para o Papa vir a Lisboa, rodeado de 60 bispos, rezar uma missa.

Será que com tanta gente a precisar de pão para a boca, é mesmo preciso gastar um pequeno balúrdio num projecto arquitectónico para usar e deitar fora? Aliás, o Patriarcado anda à procura de um mecenas que se chegue à frente com o guito. Mais um bocadinho e também clama pela solidariedade dos telefonemas de valor acrescentado...

E depois admiram-se que as pessoas não se revejam nesta Igreja...