Creio que é agora que me levanto. Agora que a sala está vazia, é só minha, como tantas e tantas noites. Não farei outro serão no quinto andar sobre a avenida. Mas custa tanto virar costas a um amor intenso.
E amei o 24horas, provavelmente como a um filho, sim, que nasceu também de mim. Um filho que me deu tantos momentos felizes, de desafio, mas que também me magoou e tantos erros cometeu enquanto crescia. Um filho ao qual tentei passar, pelo exemplo, aquilo que todos os pais querem passar aos filhos: bons valores. Lealdade, profissionalismo, frontalidade e, acima de tudo, respeito pelo código deontológico. Mas os filhos nunca são bem aquilo que sonhamos que eles sejam, não é? E nem por isso os amamos menos.
Levo daqui a dúzia de papéis que acumulei nestes quase treze anos, uma flor de plástico que já não sei de onde veio, a andorinha que em tempos recortei e colei no ecrã, umas quantas pen com arquivo vário e o bom nome que tanto lutei por manter, por entre chuvas cor-de-rosa e temporais. Provavelmente pago-o hoje com este adeus.
E levo lágrimas.
Custa horrores ver um filho morrer-nos nos braços.