sábado, 23 de junho de 2012

No abraço do poema

Abraça-me.
Eu sei que é banal.
Mas dentre o banal é o mais espectacular dos momentos
em que dois corpos se tocam
em que duas galáxias se roçam
no amplexo da ternura

Já nem falo da saudade.
Falo apenas do abraço sentido
apertado
de quem se quer
bem
muito
tanto
sempre
Deixemos o desejo
para depois, quando os corpos acordarem

e escreveremos o livro
com que ambos sonhamos 


* poema escrito sobre este quadro do pintor italiano Lorenzo Matttotti e publicado primeiro na rubrica a-ver-livros do blog Clube de Leitores

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Translúcida

Estou translúcida, como a manhã.
Tenho os olhos postos na tarde.
Talvez assim chegue mais depressa a noite

- e os teus braços.

domingo, 10 de junho de 2012

Sementes



Arranca-me de mim,
esta terra está contaminada
com as lágrimas
dos vermes
que comem memórias

Desenraíza o que resta
de um sonho mau

E oferece-me
um chão novo
sementes de bonsai
caroços das cerejas
comidas

terça-feira, 5 de junho de 2012

Pormenores



Por menores que sejam
ficam em mim os teus sulcos
pormenores de nós nas paredes
dos tempos

* dedicado à Emiliana Silva, autora desta foto.

sábado, 2 de junho de 2012

Lava e flores


Tenho calor. A alma em brasa. 
Um vulcão no lugar do que não tem nome, escorrendo de mim em lava e flores. 
Arrefece-me.