sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Poções e feitiços


O vento desenha
sulcos na água
e logo se arrepende.

Limito-me a respirar,
máquina de carne, osso,
alma enredada nos sulcos
que o vento desenha
na superfície
de mim
e logo se arrepende.

O vento que reduz
a inquietação no meu peito
a um leve arfar
de quem subiu escadas.

Sinto-me capaz
de conjurar as forças
da natureza,
fazer com que aquela nuvem
chova sobre ti
enquanto recordar
o teu nome.
Sinto-me capaz
de poções e feitiços.

E curiosamente não invento um
que te traga de volta.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Apetite


Observo-te
com a ânsia expectante de quem tem
os olhos postos
nos figos guardados
para o fim do almoço

Sei que me vão dar dor de barriga
mas acabarei por os comer

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Lua cheia

A lua está cheia
e ouço-te uivar sob a minha janela
em fúria
e fome
e ânsia
e instinto

A lua está cheia
e sinto-te pulsar entre as sombras
intensas
imensas

A lua está cheia
e o meu sangue espera-te nas veias,
crisol carregado de prata
para matar-te no fogo de amar

Sou peeira,
guardadora de ti
fada dos lobos
senhora da alcateia

(ilustração by Renée Nault)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Entre o princípio e o fim


Um dia destes
vi a eternidade
aninhada no teu peito

serena como uma criança
adormecida.

Invejei-a,
finitude que sou