sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A-M-O-R


Anda tudo fascinado com a história do jovem padreco que largou tudo pelo amor de uma menina chamada Fátima.

Eu sorrio ao de leve. E não consigo tirar da cabeça a história daquele homem asiático que desenterrou a falecida mulher e, durante cinco anos, dormiu ao lado dos seus restos mortais na cama.

Até tenho medo de descobrir o que isso quer dizer a meu respeito e a forma como concebo o amor.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Fome


Tenho passado o dia assim. A pensar em flores. Em flores do campo, brancas, simples, que crescem mesmo no meio dos restos do mundo. Pois, malmequeres.

Ou vermelhas. Papoilas, "gritos vermelhos num campo qualquer". Ou amarelas, como as azedas que apanhava no terreno baldio sempre que vinha da escola para casa, miúda pequena.

Flores. Apetece-me flores. Acho mesmo que tenho fome de flores, que não de pão.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

E se, de repente...


me oferecerem um gelado Magnum, duas e meia da manhã, um pombo salvo há menos de meia hora - à força de guarda-chuva - das garras dos espetos no peitoril da janela, uma vaga neura no ar? É mimo. Mimo puro, desinteressado. E a parte melhor é que chegou de quem não sonha o quanto eu precisava de mimo neste momento, mesmo sem o saber.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Desespero

Se há coisa que me tira do sério é ver o Natal "começar" ainda mal o ano escolar recomeçou.


Bem, ver as promoções de cadernos escolares, lápis, mochilas e similares quando ainda estamos de papo para o ar a curtir as praias de Agosto também.

Tal como levar com biquinis e anticelulíticos ainda mal acabámos de fazer a digestão das amêndoas da Páscoa.

Na verdade, ver encher as lojas de coelhinhos e ovos de chocolate um mês antes da Páscoa também...

E gramar os coraçõezinhos do S. Valentim ainda mal curámos a ressaca da passagem de ano...

Como alguém disse há dias, "o capitalismo, antes selvagem, agora está desesperado". E não há nada mais anti-tusa - consumista inclusive - do que o desespero.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Pronto!

Sabem aqueles momentos em que deixamos de ter marido ou mulher e toda a gente com quem nos cruzamos dispara, nos primeiros cinco segundos, 'e então como é que está a fulana ou o fulano'? Pois, é o que me acontece à conta dos pombos.


Quem conhece este meu cantinho não perde ocasião de querer saber: 'e então, como estão os pombos?'... É uma história longa, um dia destes conto-a, vou prometendo. Hoje vou cumprindo. E confesso que, assim às vezes, muito de vez em quando, sinto-lhes a falta também. Divertiam-me, distraiam-me, irritavam-me... Mas foram-se. Mais ou menos de vez, que agora, se aparecerem aqui pela Maternidade Almeida Avenida, correm o risco de acabar no espeto.

Da última vez que os mencionei voltava de férias, havia dois novos ovos no ninho. Naquele nojo de ninho. Nasceram, cresceram, a história repetiu-se: um a morrer e a apodrecer num canto, o outro a crescer, a ganhar asas sobre os restos mortais do mano e a voar. A Natureza tem essa mania de ser cíclica, que querem...

E, de repente, não mais que de repente, os piolhos invadiram o pedaço, aproveitando a ocasional janela aberta. Começámos a andar todos mordidos. As mesas povoadas de novos habitantes ínfimos que se entranhavam nas nossas peles, nas nossas roupas, nas nossas vidas. A minha singela vontade de, no regresso de férias, aproveitar para limpar aquele cemitério de pombos e, percebi-o tarde demais, maternidade de piolhos, transformou-se numa operação quase militar de limpeza geral aos parapeitos do prédio.

Tudo culminou na tirinha de espetos - fascinante invenção anti-pombo-no-beiral que passei a ter aqui no canto da minha janela de quinto andar sobre a avenida. Os pombos já cá não vêm. Já não há nada vivo a olhar-me do outro lado da janela. É uma limpeza. Mas é também um bocadinho triste. Se calhar foi por isso que andei tanto tempo a adiar esta história...