terça-feira, 28 de junho de 2011

Retorcida


Estou numa espiral
de mim
entre o querer
e o não querer

O sol vai alto
e o que resta do que sou
teima em fechar-se
sobre si mesma
num pranto vegetal
e orgânico
que não tem tempo
nem morada

Estou retorcida por dentro
como o tronco da árvore
submetida à inclemência
das intempéries

Sou natureza. E dói

terça-feira, 21 de junho de 2011

Felizmente há luar


A lua vai cheia
e eu vazia de ti.
E nem sei se alguma
reflecti a tua luz.

E dizem que no céu
um buraco negro
engoliu uma estrela.

Devia ser a que guiava
os nossos passos.

sábado, 18 de junho de 2011

O regresso


E de mansinho
a poesia voltou
como se não tivesse
chegado a partir
abandonando-me
ao ranger tenebroso
das mandrágoras
nas madrugadas
sem vocábulos
ou rimas.

Voltou a poesia
e vem cheia
como o Rio Pranto.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Já vos disse que há dias assim?


Que hoje não me vejam os olhos pois gritam em silêncio como prisioneiros esquecidos entre paredes altas.

Que não possam encontrar neles as emoções que correm desvairadas pelos corredores povoados de ecos em busca da porta que já não há.

Que suspeitem apenas do crime que os condena à escuridão.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Repto


Rapta-me agora. Sem hesitações nem porquês. Não quero saber para onde. Rapta-me sem apelo nem agravo. Leva-me para longe de mim e obriga-me a amar-te de novo. Enlouquece-me de novo . Leva-me de novo a acreditar que é possível e que não há esperas nem lágrimas. Rapta-me para dentro de ti de onde nunca saí. Deixa-me morrer aninhada no teu peito.