sábado, 29 de setembro de 2012

Na relva

Deixa-me morrer assim, estiraçada na relva, descalça, olhos postos nas nuvens. 
Deixa-me morrer assim, um livro aberto numa página bonita
- espero que não se levante o vento e a mude,
baralhando a minha última vontade
e testamento final.

Deixa-me morrer assim, a achar que vão recordar-me
e sentir vagamente a minha falta quando,
em dias assim quentes e húmidos,
avistarem alguém estiraçada na relva, descalça, olhos postos nas nuvens
e um livro aberto. 

Quem sabe numa página bonita

 * escrito para o quadro do pintor sérvio Vladimir Dunjic e publicado primeiro na rubrica diária "a-ver-livros" do blog Clube de Leitores.

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