quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

La Bersagliera

Hoje sei porque fixei o nome de La Bersagliera, corriam os idos de noventa e tal e, em cinco noites, dormi em quatro países diferentes. Foi para reconhecê-la agora - e ao específico cheiro de porto de mar e ao específico ruído de barcos e cordame e águas revoltas.

A noite sem sono levou-me para a porta dos infernos, devia escrevê-lo entre aspas, claro, "A Porta dos Infernos". Logo no início, a dedicatória arrepia-me. "Para Anna. Que o teu riso se prolongue até ao Além e aqueça aqueles que nos fazem falta".


Na segunda página lá está o restaurante. Parado no tempo, numa Nápoles onde jantei entre gargalhadas, que calcorreei a três, madrugada dentro, numa ânsia estranha de ver as fachadas históricas recém limpas e iluminadas, e onde acordei atrasada - mas de alma cheia - para aquele animal insano que são as suas ruas em hora de ponta.

Não me lembro do empregado morto-renascido, junto à máquina do café, alimentado a vingança. Será que já então existia na mente do francês que o apresentou ao mundo em 2008?

É com a sensação de que tudo tem uma razão de ser que leio página após página, que desço ao túmulo dos seus - podiam ser os meus - mortos, que amo e vingo; o dia a nascer inesperadamente com sol, só paro na última e o sono nunca chegou a vir.

Não sei se era um bom livro. Não recordo se comi realmente bem ou mal em La Bersagliera nos idos de noventa e tal. Sei que uni dois pontos no tempo e era eu no espelho.

3 comentários:

Princesa M disse...

"Que o teu riso se prolongue até ao Além e aqueça aqueles que nos fazem falta." E que as tuas palavras sejam sempre acompanhadas por um eco que se faça sentir perto e longe. Palavras sempre com sentido e acertadas, que aquecem e reconfortam qualquer alma. E mais: que fazem com que saudosismo (também esse que sentiste nesta noite) faça todo e mais sentido.

je moi même disse...

Qual será o emoticon para mostrar que me sinto super mimada?

rodas disse...

Lê do mesmo autor: el dorado. Beijo