quinta-feira, 27 de outubro de 2011

E morrer assim


Estou morta
e deambulo pela casa
enquanto vocês me deixam dormir
mais um bocadinho
e acabarão por me encontrar
já rija e a feder
estiraçada na cama
de onde, afinal,
não cheguei a sair.

Estou morta
e deambulo pela casa
até me sentar no cadeirão
do fundo
e pensar
que até é curiosa esta tranquilidade
de quem feneceu acordada.

Estou morta
de medo que o mundo
volte a fugir-me de debaixo dos pés
sem apelo nem agravo
sem controlo ou perdão.
Que o meu mundo
volte a fugir para dentro de mim
e fiquem de fora apenas
as perninhas
a abanar
dependuradas do precipício.