terça-feira, 24 de agosto de 2010

Verbo


Quero escrever a angústia que me vai por dentro.
Quero arrancá-la de mim, letra por letra. Talvez assim a minha alma amarfanhada recupere o jeito de dicionário organizado de A a Z.
Quero pôr no papel esta dor que me consome, traduzi-la para todas as línguas que conheço para que ninguém lhe fique indiferente.
Quero encontrar sinónimos para o fel que se agiganta cá dentro e antónimos que sirvam para conjurar a magia das palavras que me vão salvar.
Quero desatar em poesia este aperto que me rói, fazer quadras com a aflição, versos de pé quebrado para enxotar o tormento.
Quero tão pouco, não mais do que ser amada.
E contento-me em respirar todos os dias - sabendo que, apesar de tudo, o coração ainda mora no condomínio deste peito que é o meu.

5 comentários:

Unknown disse...

tá um espetaculo,subescrevo.como dizes tu que não consegues escrever ??

FrankMarques disse...

Amiga, o teu sentimento tem prolongamento cá deste lado do rio. Nunca o caudal foi tão largo e ao mesmo tempo tão estreio.
Não podemos parar de esbracejar, na esperança de nunca perdermos a arte de nadar.
Por vezes parece que estamos abandonados a um canto, que todos passam por nós e ninguém olha, que escrevemos para o boneco. Por vezes podemos até ser injustos para o Mundo, para as pessoas, por sentirmos que as pessoas são injustas connosco. Mas nós estamos cá, eles também nos vêem, apesar de fingirem que não, eles também nos lêem, apesar de dizerem que não.
As teclas gostam de nós, gostam do que as levamos a formar. Não podemos parar. Nem que seja por apenas sermos importantes para uma pessoa, uma que não tenha medo de nos olhar, de nos ler. Mas eu tenho a certeza que há bem mais do que uma, do que dez, do que cinquenta, que fazem questão de te ler, de rir com as tuas palavras. Nunca pares de esbracejar e sempre que sintas algo mais pesado transforma-o em palavras mais leves capazes de chegar aos corações alheios. Ao meu chegaste.

Sophiabia disse...

perante as palavras tristes que escreveste e o que o Francisco escreveu, estou feliz, por isso mesmo: porque escreveram, com sentimento, alma. Não deixem que a angústia amarga que agora está presente, vos impeça de mostrar sentimentos, sejam eles quais forem...carinho

Alice disse...

Tenho computador ao colo e as mãos no teclado. A mim é que não sai nada... Estou seca.

je disse...

São secas temporárias, sabes bem. Os rios fluem hoje aqui, amanhã ali. Continua a viver a vida em pleno e as palavras voltarão ao teu ninho, como andorinhas na primavera. bj