terça-feira, 4 de agosto de 2009

A ilha deserta e coisa e tal


Ciclicamente há alguém que me vem com a conversa sobre o que levaria ou deixaria de levar se me fosse refugiar numa ilha deserta ou algo assim. Acho que esta semana o ciclo estava a fechar-se mais uma vez e a perguntinha lá veio. "E só podes escolher uma coisa." Larguei uma daquelas minhas atoardas que colocam logo a pessoa do outro lado do portão e segui à minha vidinha, que tinha mais que fazer.

Alguma coisa me ficou cá dentro a roer. Sim, se querem saber sou mulher de listas. Em papel, sim. A lista do que vou precisar quando vou às compras. A lista do que vou meter na mala quando vou de viagem. A lista dos livros que tenho de determinados autores. A lista das coisas que quero fazer em casa assim que tiver dinheiro para mais um raide decorativo. E sim, a lista das coisas em que seria obrigatório agarrar se a casa pegasse fogo e tivesse que fugir em cuecas, um rol que, graças às novas tecnologias se transformou em algo como isto: um CD com fotos escolhidas das pessoas da minha vida; um CD com os documentos relevantes todos digitalizados; um CD com textos e missivas várias e, last mas definitivamente not least, um certo e determinado objecto.

Com isto arrumado na minha cabeça, roia-me o quê então? Entro no carro, dou à chave. De imediato, como sempre, a rádio dispara. No ar paira uma canção de outros tempos. E eu soube o que levaria para a dita ilha deserta ou coisa que tal: música. A forma como me faz sentir, como me liberta, como me toca pela harmonia, permitir-me-ia, só por si, abdicar de quaisquer posses, recordar rostos queridos e quadros intensos, relembrar textos meus e de outros, imaginar mil livros novos, diferentes a cada dia, e saber que aquele objecto que anda sempre comigo não precisa de andar sempre comigo para nunca me abandonar.

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